Podemos Decifrar o Design?

Design Computacional

Muitas empresas de criação e design estão concentrando seus esforços em aprendizado de máquina, inteligência artificial e disponibilidade de dados. Mas deveríamos temer que o processo de design se torne totalmente automatizado?

A Arquiteta de Design Computacional da Henning Larsen, Iliana Papadopoulou, não acredita nisso:

“Acredito que a integração bem-sucedida de novas tecnologias resultará no aprimoramento do pensamento criativo. Em nossa empresa, estamos desvendando o potencial do design generativo como um facilitador de soluções mais sustentáveis.”

O que é design generativo?

Design generativo é um processo digital de exploração iterativa de design. Você insere metas de design no software, juntamente com parâmetros como restrições de zoneamento, requisitos espaciais, uso de materiais, consumo de energia, pegada de CO2 e restrições de custo. O software então explora todas as possíveis permutações de uma solução, gerando rapidamente alternativas de design. Esse processo itera por uma variedade de propostas de design, classifica as iterações e identifica as melhores, fornecendo análises detalhadas para cada proposta.

“No tempo que você leva para criar uma ideia, um computador pode gerar milhares, juntamente com os dados para provar quais designs têm melhor desempenho. Como designer, você ainda define os parâmetros, mas, em vez de modelar uma coisa de cada vez, o software de design computacional ou generativo ajuda você a criar muitas soluções simultaneamente e, às vezes, até encontrar soluções únicas e inesperadas que seriam difíceis de descobrir com métodos tradicionais”, explica Iliana.

Não há limite para a escala ou tipo de desafio de design que esse processo pode enfrentar: desde determinar a quantidade de área a ser coberta com impacto ambiental mínimo até encaixar o maior número possível de mesas de trabalho em um escritório sem comprometer a circulação, o processo é igualmente eficiente.

Na indústria AEC, a aplicação de métodos de design generativo geralmente visa otimizar o fluxo de trabalho tradicional. Mas o maior potencial do design generativo reside em sua capacidade de apoiar a arquitetura sustentável, reduzindo o uso de nossos recursos.

Vila Coop
A Vila Coop é um novo distrito de 250.000 m2 localizado a oeste de Copenhague, em Albertslund. O plano diretor adicionará 1.800 unidades residenciais ao longo de 10 anos – aumentando a população em Albertslund em 15%.

Onde pode ser aplicado o design generativo?

O design generativo pode ser usado em todas as escalas – desde grandes planos diretores e componentes de fachadas únicas até processos de atomização de baixa prática, como os relacionados à mobilidade urbana.

Para novo plano diretor ‘Coop Byen’ em Copenhague, desenvolveu-se uma nova ferramenta de design generativo para informar o processo de design. Como resultado, descobriu-se que ao densificar a estrutura, poderia melhorar o conforto urbano, o ambiente de vento e as condições de luz natural, ao mesmo tempo em que liberava mais espaço para áreas verdes.

Já em Boston, está sendo usado para projetar um novo Centro de Escritórios de Uso Misto e Centro de Artes Performáticas no Distrito de Seaport da cidade. O design é inspirado no clima costeiro e nas qualidades dinâmicas do mar. O objetivo aqui é refletir o ambiente natural e, ao mesmo tempo, tirar o máximo proveito dele. Combinando análises de sol, luz natural e vento com um estudo generativo de sombreamento passivo de fachadas, foi possível otimizar orientação, tamanhos e posicionamento das aletas e venezianas. O propósito era encontrar a melhor solução para o ambiente interno (luz natural), consumo de energia (carga de resfriamento reduzida) e uso de materiais. O resultado acabou sendo uma fachada incorporando uma solução de sombreamento que se transforma em toda a estrutura e é adaptada à orientação específica.

Centro de Escritórios de Uso Misto

O design generativo é um processo padronizado?

Para cada caso, a equipe pode executar entre 10.000 e 20.000 opções. No entanto, este não é um processo padronizado.

Inicialmente, cria-se um script o mais ágil possível com metas claras, depois para cada projeto ele é ajustado e personalizado. O resultado é um algoritmo destinado a atender tanto ao projeto quanto ao processo. É importante entender a construção do script, caso a caso, como um exercício de design em arquitetura contextual, com a mesma importância ao processo tradicional de esboço.

Nessa abordagem, o computador se torna um colaborador ativo no processo de design, não apenas um repositório de dados. Aliviando o designer da responsabilidade de todas as interações, o computador pode propor várias alternativas de design e classificá-las de acordo com os requisitos e premissas designados no início do processo.

“Reconhecemos que nossos sistemas de design computacional têm potenciais e limitações, da mesma forma que uma caneta tem, ao desenhar um esboço analógico. O que estamos focando é empurrar os limites desses potenciais e reduzir as limitações.” Diz Iliana Papadoupolou

Embora os computadores possam organizar e priorizar decisões para os designers, eles não podem seus lugares. O papel de identificar e definir problemas, assim como os fatores para suas soluções, não pode ser terceirizado para sistemas tecnológicos. Compreender necessidades, valores, problemas e possíveis soluções são tarefas profundamente humanas, pois exigem sensibilidade e compaixão. Acima de tudo, o design exige e incorpora a vontade de responder aos desafios com os quais nossas comunidades se deparam, assim como a capacidade de imaginar um futuro melhor para nós mesmos e para os outros.

Um trabalho bem feito não é definido apenas pelas métricas de redução de consumo de energia e condições de vento otimizadas. Em grande escala, é uma montagem de elementos que moldam experiências. E experiências não podem ser roteirizadas.

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