A arte do design biofílico está presente de forma massiva na arquitetura hospitalar das grandes cidades do mundo. E a razão é muito clara: o contato com a natureza acelera o processo de recuperação e promove mais bem-estar aos pacientes
Já se passaram mais de 30 anos desde o estudo pioneiro de Roger Ulrich sobre o efeito da vista da janela para a natureza na recuperação de pacientes. A pesquisa, no caso, identificou que os pacientes pós-cirurgia que viam a natureza tiveram taxas de recuperação mais rápidas, precisavam de menos analgésicos e tinham menos complicações pós-operatórias.
Além da vista externa, os estudos de Ulrich também constataram que toda a forma de natureza simulada como imagens representativas da natureza, como fotografia, obras de arte ou gráficos também surtiram efeito positivo no bem-estar dos pacientes. Os resultados mostraram menos ansiedade, estresse e até percepção da dor.
Os arquitetos sempre atentos aos benefícios da natureza
Diante dessas evidências, os arquitetos e designers de interiores se voltaram com dedicação para o tema e decoraram áreas fechadas do hospital com artes alusivas ao verde e à natureza.
Assim, a incorporação da arte da natureza nos ambientes de saúde ficou conhecida como distração positiva. Ou seja, um recurso ambiental que promove sentimentos positivos e prende a atenção sem sobrecarregar ou estressar o indivíduo.
Mais tarde, o passo seguinte para a melhoria da qualidade de vida dos pacientes em hospitais foi a incorporação das ilusões biofílicas, algo um pouco mais profundo. Diferentemente das imagens representadas da natureza, as ilusões biofílicas fornecem informações que conduzem a experiências anteriores. Dessa maneira, cria uma realidade mais convincente.
Fato é que as artes que simulam a natureza estão sendo introduzidas na arquitetura hospitalar para obter uma melhor resposta dos pacientes. A distração positiva tem funcionado, mas é preciso atentar para as ilusões biofílicas. Essa questão é relevante porque as ilusões biofílicas têm maior capacidade de restauração e relaxamento genuíno. Isto é, é mais profunda em comparação com a distração positiva.
Isso se deve ao fato de que o design biofílico elimina sem grande esforço a causa raiz de pensamentos e sentimentos preocupantes. Distrair uma mente inquieta não necessariamente reduz seu nível de atividade. Já o conteúdo visual nas ilusões biofílicas acaba por reduzir a agitação mental.
O Design Biofílico como futuro na Arquitetura Hospitalar
Por fim, a ilusão biofílica é o futuro quando se fala em ambientes de saúde restauradores. Trata-se da melhor resposta para ambientes fechados que cuidam da saúde das pessoas.
E as ilusões têm um papel fundamental a desempenhar porque, embora toda a nova construção de serviços de saúde incorpore os princípios básicos do design biofílico, como luz do dia abundante, amplos espaços verdes e vistas para a natureza, a maior parte dos prédios existentes conta com enormes seções de ambientes completamente fechados.
Agora, vamos pensar sobre os motivos pelos quais os prédios onde nos recuperamos e tratamos de doenças, bem como os espaços arquitetônicos em que trabalhamos, estudamos e interagimos, precisam, urgentemente, de soluções mais modernas.
De acordo com um estudo importante no segmento de construção, mais de 50% dos edifícios que serão utilizados em 2050 já foram construídos. O ponto aqui é que boa parte foi construído antes que os princípios do design biofílico fossem bem compreendidos e, mais do que isso, amplamente aplicados.
O envolvimento biofílico nos remete à essência
Quando nossos sentidos estão imersos na natureza selvagem, por causa de nossa tendência genética, nossa familiaridade e nosso senso de beleza, nossa atenção nos atrai para uma experiência profunda e refrescante da natureza ao nosso redor. Essa é a experiência do envolvimento biofílico. Na natureza, tudo é diferente e, quando estamos à vontade, nossa fisiologia e psicologia se comportam de maneira diferente.
Em contraste com a distração positiva, onde a mente ativa é desviada, mas permanece ativa, as propriedades curativas do envolvimento biofílico decorrem de sua capacidade de acalmar a mente. Uma mente calma é o primeiro passo para cuidar do corpo, uma vez que mente e corpo estão intimamente conectados.
O chamado engajamento biofílico desencadeia uma experiência profundamente familiar e pode ser reproduzida sem esforço no observador, porque nos reconhecemos em ambientes naturais. Somos geneticamente atraídos pela natureza e, consequentemente, esses elementos prendem nossa atenção sem esforço.
É por isso que é apenas questão de tempo até que os benefícios clínicos do envolvimento biofílico se tornem o novo padrão – não apenas na área da saúde – mas em toda construção que exija interiores sustentáveis a longo prazo.
Um case de sucesso no ambiente de saúde
Um caso de aplicação de elementos da natureza trouxe ótimos resultados na unidade psiquiátricas de um hospital na Suécia, chamado Östra. Todo o projeto foi pensado em como uma boa arquitetura poderia aliviar o sofrimento de pacientes e seus familiares.
A instalação foi toda pensada para oferecer uma experiência biofílica, incluindo o layout de cada departamento, acesso a natureza dentro e fora do prédio, e os variados espaços individuais e comunitários. O projeto também considerou as diferentes necessidades de pacientes e profissionais de saúde, criando um ambiente que cuida de todos os ocupantes.
Dados coletados antes e depois da mudança, mostram que houve uma melhora significativa em vários aspectos. Por exemplo, a necessidade de medicação coercitiva reduziu, assim como a necessidade de contenção dos pacientes. Além disso, a readmissão depois de sete dias de alta também foi diminuída. Os efeitos também atingiram os funcionários, já que houve uma queda no número de ausência por conta de doenças.
Para além dos números, foi possível observar que os pacientes realmente se conectaram com os espaços biofílicos. O tempo todo são vistos em meio a vegetação, totalmente integrados aos espaços com elementos da natureza.
Eis um bom exemplo prático dos benefícios da natureza no bem-estar dos pacientes.